O Bahia retrô e o prélio das sombras – por Erick Cerqueira
Meus senhores, o Esporte Clube Bahia — escrete altivo e decano entre os paladinos do certame nacional — adentrou o relvado pernambucano para medir forças contra o modesto, ainda que valente, escrete do Retrô, numa daquelas contendas em que a gorduchinha parece carregada de presságios nefastos.
Esperava-se, no apronto da véspera, que o Tricolor brindasse seus arquibaldos e geraldinos com um espetáculo de lirismo, cadência e tirambaços fulminantes ao filó adversário. Esperava-se o Tricolor das antigas jornadas, senhor da cancha, dominador dos flancos, dono da alma e do coração do povo baiano.
Mas o que se viu, ah, meus caros… foi um prélio insólito, desses que só o futebol — esse teatro implacável — é capaz de encenar com tamanha desfaçatez. Parecia o Bahia retrô de 2005/ 2006.
O Bahia, em campo, parecia brincar de perder. Flertava com a derrota com a graça trágica de um bailarino embriagado. Deixou o Retrô sonhar, respirar, vivenciar um derby que não lhe pertencia.
Durante noventa eternidades, o Tricolor tropeçou em si mesmo. O centro-médio vacilava, os wings estavam desaparecidos, e até o nosso ponta de lança mais parecia um pereba perdido em meio à neblina. Ademir, esperança de altivez e velocidade, não sujou a indumentária, como se tivesse feito apenas figuração no certame.
Do outro lado, senhores, o Retrô — esse escrete que de retumbante só tem o nome moderno — ostentava uma camisa de bom recorte, mas um futebol anêmico. Ainda assim, o Bahia, em noite acinzentada, não conseguiu furar a baliza adversária uma única vez. O guarda-redes rival, coitado, mal teve o desprazer de tocar na pelota.
A regra de três pouco ajudou. As entradas táticas — como dizem os modernos — nada alteraram o desfecho trôpego da jornada. O Bahia, com metade de seu esquadrão titular, não conseguiu transformar o domínio em tento.
Mas eis que, por essas ironias do match, o Tricolor passou. Encaminhe o cheque via epístola, CBD.
ADIANTE BAHIA MINHA PORRETA!
O destino, esse velho catimbeiro do esporte, foi generoso. E, talvez por isso, o Bahia agora regressa à sua Salvador, onde já prepara o apronto para enfrentar o tradicional Fluminense — que, ao que tudo indica, lançará mão de um escrete reserva.
Mas, e repito como um refree que apita no meio do sonho: o importante é que seguimos vivos.
Vivos na Copa. Vivos na esperança. Vivos na crença de que este Tricolor, por vezes sonolento, por vezes eletrizante, possa enfim romper o carma das quartas, esse fado que nos persegue como sombra em tarde nublada.
E quem sabe, ao cabo de mais uma contenda, possamos escrever, com tinta azul e sangue quente, o capítulo semifinal de nossa gloriosa história. Oremos.
Diga aí. Que achou?
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O Bahia retrô e o prélio das sombras – por Erick Cerqueira
Meus senhores, o Esporte Clube Bahia — escrete altivo e decano entre os paladinos do certame nacional — adentrou o relvado pernambucano para medir forças contra o modesto, ainda que valente, escrete do Retrô, numa daquelas contendas em que a gorduchinha parece carregada de presságios nefastos.
Esperava-se, no apronto da véspera, que o Tricolor brindasse seus arquibaldos e geraldinos com um espetáculo de lirismo, cadência e tirambaços fulminantes ao filó adversário. Esperava-se o Tricolor das antigas jornadas, senhor da cancha, dominador dos flancos, dono da alma e do coração do povo baiano.
Mas o que se viu, ah, meus caros… foi um prélio insólito, desses que só o futebol — esse teatro implacável — é capaz de encenar com tamanha desfaçatez. Parecia o Bahia retrô de 2005/ 2006.
O Bahia, em campo, parecia brincar de perder. Flertava com a derrota com a graça trágica de um bailarino embriagado. Deixou o Retrô sonhar, respirar, vivenciar um derby que não lhe pertencia.
Durante noventa eternidades, o Tricolor tropeçou em si mesmo. O centro-médio vacilava, os wings estavam desaparecidos, e até o nosso ponta de lança mais parecia um pereba perdido em meio à neblina. Ademir, esperança de altivez e velocidade, não sujou a indumentária, como se tivesse feito apenas figuração no certame.
Do outro lado, senhores, o Retrô — esse escrete que de retumbante só tem o nome moderno — ostentava uma camisa de bom recorte, mas um futebol anêmico. Ainda assim, o Bahia, em noite acinzentada, não conseguiu furar a baliza adversária uma única vez. O guarda-redes rival, coitado, mal teve o desprazer de tocar na pelota.
A regra de três pouco ajudou. As entradas táticas — como dizem os modernos — nada alteraram o desfecho trôpego da jornada. O Bahia, com metade de seu esquadrão titular, não conseguiu transformar o domínio em tento.
Mas eis que, por essas ironias do match, o Tricolor passou. Encaminhe o cheque via epístola, CBD.
ADIANTE BAHIA MINHA PORRETA!
O destino, esse velho catimbeiro do esporte, foi generoso. E, talvez por isso, o Bahia agora regressa à sua Salvador, onde já prepara o apronto para enfrentar o tradicional Fluminense — que, ao que tudo indica, lançará mão de um escrete reserva.
Mas, e repito como um refree que apita no meio do sonho: o importante é que seguimos vivos.
Vivos na Copa. Vivos na esperança. Vivos na crença de que este Tricolor, por vezes sonolento, por vezes eletrizante, possa enfim romper o carma das quartas, esse fado que nos persegue como sombra em tarde nublada.
E quem sabe, ao cabo de mais uma contenda, possamos escrever, com tinta azul e sangue quente, o capítulo semifinal de nossa gloriosa história. Oremos.